Ter tudo o que precisa mas nada do que quer, ou ter o que quer mas não o que precisa. Eu sei tudo o que quero, mas não arrisco descobrir o que preciso; ou talvez eu saiba, mas temo ouvir o som da minha própria voz dizendo-o de maneira audível, certamente porque minhas vontades sempre são opostas às minhas necessidades, e gritam muito mais alto no final do dia. Assim como sei que preciso encarar a realidade, prefiro continuar a devanear dentro da bolha que criei em ordem de não perder a pouca sanidade que me resta, ou no mínimo meu sorriso ainda que quase sempre vazio e opaco.
Eu conheço a realidade, muito mais do que gostaria, e justamente por isso a renego, faço-me cega, dou-lhe as costas, porque mesmo durante raros momentos de hotimismo não consigo desenhar uma vida feliz construída sob suas exigências e privações, e me vejo sem saída senão a continuar marcando passos nesse esboço de vida perfeita que minha imaginação me permite rabiscar em volta de mim, ainda que utópico e imaturo, ainda que desprovida de qualquer base sólida, escolho viver nessa interminável corda bamba a ter que encarar as cinzas de meus sonhos e ainda assim ter que continuar de pé lutando por um futuro que desprezo mais que a própria ausência de um.
Nenhum comentário:
Postar um comentário