Coração apertado. Dor. Sim, aquele sentimento antigo que há muito não me atormentava. Queria entender o porquê, de se insistir em sofrer por tão pouco. Queria entender o porquê, de se habituar tão rápido a sentimentos instantâneos. Nunca há um futuro, nunca há o depois; há somente o agora que insiste em ser intenso para nos pregar peças. Há somente a insistente capacidade de enxergar intensidade onde não tem. Há somente a teimosia desesperada, essa busca incessante por amor, por entrega mútua, pela possibilidade de encontrar aquele a quem se entregaria, aquele a quem amaria como se não houvesse amanhã; aquele amor utópico, patético, ridículo. Ridículo, mas necessário. Necessário para nos fazer sentir vivos; para nos tornar vivos. Um choque elétrico em um coração congelado, que insiste em se derreter na direção e momento errado. Quizera eu ainda ter a quem culpar, mas esse peso é somente meu, essa culpa é somente minha.
céu de vidro
ResponderExcluiro tempo me (ex)pulsou
a vida inteira
e mudo estou
para explodir em versos
ao vento ligeiro
não quero o céu profundo
dentro em mim mas o que inflama
toda a poesia que arde em chamas
um jardim para meu fim:
rumores de asas flores pássaros
sobre todas as cinzas
pedras sobre a terra
pela última vez dispostas
nos poros desatados deste corpo
por trás dos sonhos
sinto-me leve de meus pulsos
que gritam toda a nódoa do mundo
quem quiser saber o que fui
afogue-se em meus poemas
nesta manhã desventrada dos céus - o silêncio -
ouço apenas o silêncio
o tempo é escasso
e quando o sol se pôr
estarei livre dos sonhos
de meus versos guardados
tudo se esvai - até a dor do poema -
a cova arde
como um inferno de dante
ah ! dirão: covarde
e por toda (p)arte
o meu amor é preciso
agora um f(r)io denso me invade
e por toda parte
é o meu amor preciso
- quero inventar um poema:
um vento de seda -
borboletas abanam as asas
no silêncio cristalino
meus versos inflamarão
em todas constelações
nacos da minha alma
crepúsculo –
após uma vida curta
a noite se alonga...